Bazar Alexandre Herchcovitch




Tarde chuvosa de sábado. Um tédio tenebroso de fim de semana e resolvo fazer uma visita descompromissada ao tão falado Bazar Alexandre Herchcovitch, estilista de renome internacional. E que grata surpresa, adorei minha visita.

Tire esse sorriso do rosto, maldito leitor, não sou chegado nesse negócio de moda, não. Mas fiquei surpreso com o espetáculo da vida moderna com que fui inesperadamente presenteado.

Para começar, o local: lá pela mais nobre área do Jardim Botânico, bem ao lado de uma das imponentes instalações Globo. Depois, o público: uma consequência desta mistura de moda, preço caro, fama internacional e bairro de elite. Uma finíssima fatia da sociedade, cirurgicamente cortada pela afiada navalha do life style marketing. Oh Deus, que maravilha de local. Subindo as escadas imaginava o tipo de coisa que ia ver, as madames com cara de intelectuais, socialites apreciando as peças com o distanciamento característico da etiqueta pequeno-burguesa, meninas de berço esplêndido divertindo-se com as novas tendências da moda mundial, enfim, essas coisas bem chatas (oh que ótimo adjetivo!).

Rá! Que engano deste pato. O que vi foi uma das maiores demonstrações de trangressão das regras da alta sociedade, um bando de rebeldes, uma tropa de opositores, uma manada de subversivos. Foi difícil encontrar um lugar onde manter o olhar, tudo era interessante. As roupas, na minha certeira opinião, eram horríveis, com aparência de velhas, cortes e estampas que ultrapassaram anos-luz a tênue e frágil barreira do ousado. Alcançaram o conceito do semi-ridículo, que acabo de formular. Mas naquele ambiente sem leis, tudo era lindo. Sapatos, casacos, blusas, calças, vestidos, tudo jogado pelo chão ou nas araras depenadas pela fúria dos descamisados (mais bem vestidos que já vi). Em meio ao calor levantado pelas batalhas de campo, a falta de um ar condicionado ou mesmo um modesto ventilador exaltava os instintos primordiais, e os transeuntes tiravam as roupas no meio do recinto para testar as novas fantasias, já que no chiquérrimo bazar de roupas faltava um provador.

Senhor, eu não sabia se ria, vomitava, chorava ou prestava atenção. É verdade leitor, presenciei cenas que nem mesmo Pasolini poderia imaginar... O espetáculo da vida moderna. O melhor de tudo eram as madames coquetes espremendo as pelancas para poder exibir às amigas um modelito Herchcovitch, isso tudo sem nem pensar em lembrar do pudor habitual das madames de fino trato.

No fim das contas acho que Alexandre Herchcovitch seria um grande amigo. Não tenho a menor dúvida de que todo aquele espetáculo é na verdade uma obra de arte, uma intervenção pós-moderna no mundo do glamour. Findos os fundamentos, as tradições, as histórias, ali estava o retrato do mais puro individualismo eficaz. A luta pela peça, a apreciação, a avaliação, e o pagamento, pronto é meu. Que obra de arte, batamos palmas para o senhor Herchcovitch.

As madames, tenho certeza, pagariam bem caro para assistir à ultima invenção do internacionalmente renomado artista.


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Assassine o Pato!


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