Burle Marx, o Gênio



Fui visitar a inauguração da exposição que comemora os 100 anos de Burle Marx, A Permanência do Instável, ali no Paço Imperial (lugar bastante seguro pra um reconhecido pato como eu). Já conhecia alguns trabalhos de Burle Marx que estão espalhados pela cidade, como o Aterro do Flamengo (onde encontro alguns amigos do crime), a Praça Cuauhtémoc também no Flamengo (lá é o pessoal da boca), e claro, o grandioso calçadão de copacabana (região do crime especializado em gringos). Claro que já era grande admirador do paisagista, ocorre que agora sou um grande admirador do artista. É isso mesmo, Burle Marx era muito mais do que apenas um magistral paisagista.

A exposição começa em uma grande sala com dezenas de telas perturbadoras, em vários estilos e de épocas distintas da vida do autor. Sua obra estampada nos quadros já dá uma idéia da vesatilidade que vai marcar toda a visitação. Burle Marx possui pinturas de um estilo único, ora com formas geométricas definidas , ora com traços indefiníveis. Os assuntos (quando há um) também são bastante variados, desde natureza morta até belas figuras humanas. Está exposta também a sua última e inacabada obra de pintura.

Em uma fluência muito bem planejada, entra-se em outra sala com outros quadros, alguns desenhos e esboços de projeto (como os originais do calçadão de copacabana), e algumas obras da face figurinista e cenógrafo de Burle Marx. A despeito de toda essa variedade, é tudo muito bonito. Os desenhos de figurinos mostram roupas de época com detalhes impressionantes. As colagens que ele faz para ilustrar uma concepção de cenário são talvez a parte mais bonita deste primeiro andar da exposição, que continua com suas surpresas.


Estudo para Carnaval, décadas de 60 e 70



Os dotes esculturais são exemplificados com algumas garrafas feitas em vidro contorcido, lindíssimas. Queria algumas para envazar meu whisky 18 anos. Burle Marx também se arriscava na ourivesaria, trabalho que pode ser conferido em uma pequena coleção de jóias de ouro com formas que têm a sua marca. Aliás, é um bom projeto para meus futuros assaltos.

No segundo andar da exposição, logo logo me deparei com as tapeçarias assinadas pelo multi-artista. São tapetes que deixam qualquer bandido persa boquiaberto. Um deles tem uns 20 metros de comprimento, uma cor azulada e um baita desenho característico. Os outros, um pouco mais modestos são tão bonitos quantos, em outras cores e estilos.

Finalmente pude contemplar a faceta famosa de Roberto Burle Marx, seu paisagismo. Vários projetos de jardins espalhaos pelo mundo todo estão expostos na últiam oparte da exposição. É incrível que, mesmo nesta atividade na qual o artista é internacionalmente famoso, ainda se possa surpreender. A quantidade de trabalhos e o alcance que eles têm é impressionante. Os traços que as plantas delimitam dão uma dimensão mágica aos ambientes. A flora brasileira foi negligenciada durante muito tempo quando se tratava de paisagismo. Burle Marx não só recuperou esta má condição como tornou os jardins ornamentados por ela os mais bonitos que eu já pude ver.

Ao longo de toda a exposição, o rodapé mostra uma cronologia de intervenções ao redor do planeta que é parcialmente mostrada nesta exposição. Olhando os jardins que Burle Marx projetou, eu como um legítimo pato, fiquei emocionado. Comparando aquelas paisagens com as imagens que tenho de minha infãncia, tenho a sensação de que perdi grande parte de minha vida em lugares que acabaram me tornando o que sou. Se eu tivesse crescido em algum lugar projetado por Roberto Burle Marx, com certeza eu teria pulado a fase de batedor de carateiras e ladrão de carros e me tornado um bandido internacional muito mais rápido. Aliás, é uma pena que um jardim destes não possa ser roubado. Se pudesse, eu estaria muito além de um jardim.


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Assassine o Pato!


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