Semana de Quadrinhos




Foi a III Semana de Quadrinhos da UFRJ que me levou ao meu ídolo. Depois de horas de metrô-trem-ônibus cheguei acompanhado do Lesmaluco ao Sesc Madureira, numa quarta-feira do dia 31 de outubro, com o intuito de encontrar o meu mestre absoluto: o malvado André Dahmer. Me realizei.

André foi convidado pela Semana para debater sobre o uso de diferentes mídias como meio de divulgação das histórias em quadrinhos. Também pudera, o cara é um dos quadrinistas-blogueiros mais famosos da web. O evento universitário vem, há três anos, aproximando o público de jovens fãs de quadrinhos das diferentes formas de construção da arte seqüencial.

André, surpreendentemente, se revelou um verdadeiro romântico. Filosofou sobre o mercado editorial brasileiro, profetizou o fim dos direitos autorais e das grandes indústrias, convocou os estudantes a seguirem suas vocações e chorou ao recitar uma poesia que escrevera para um amigo. Sempre, contudo, acrescentado comentários e palavrões levemente malvados entre uma pausa e outra.

O pai dos malvados falou francamente com o público que exigia seus desabafos sobre sua profissão de quadrinista. A partir do tema da mesa, Dahmer falou das novas mídias como modo de escapar das garras do mercado midiático, uma verdadeira tendência mundial. Segundo ele, os atravessadores (carinhoso apelido dado aos grandes editores) estão desesperados com as novas possibilidades da internet, aonde se pode publicar música, vídeo, fotografia, gravura sem nenhum tipo de mediação. Este poder na mão de quem produz arte levará, nas palavras de André, à “destruição das indústrias arcaicas de comunicação”.

Mas o discurso inflamado não parou por aí. O criador de Emir Saad abriu os olhos dos novos artistas para o perigo iminente do controle do espaço virtual por parte do mercado, já que esse panorama de possibilidades infinitas não interessa a ele. Ainda se dirigindo diretamente aos jovens que constituíam a platéia, Dahmer disse não querer perder nenhum dos presentes:
- Não quero ver vocês me dizendo que fizeram a propaganda do carro ecológico, propaganda do banco que não parece banco. Tá na hora de lutar com força contra as tentativas que existem e ainda vão existir no afã de conquistar este espaço - falou se referindo às novas tendências da internet.

- Estão insatisfeitos com o jornal que tem aí? - perguntou Dahmer, e não demorou a responder a si mesmo - façam um novo jornal. Foi mais uma recomendação que ele fez aos novos produtores da mídia.

No fim das contas, o grande assunto do debate foi realmente a possibilidade de se criar alternativas aos grandes meios de comunicação, que acabou se mostrando o grande vilão a ser combatido. André, por exemplo, não utiliza os serviços de nenhuma editora na publicação e distribuição de seus livros e artigos dos malvados. Ao invés disso, criou a Malvados Corp, uma parte do seu site aonde ele mesmo controla as vendas de seus produtos. Como resultado deste esforço, André afirma que é o autor mais bem pago do mercado editorial brasileiro, recebendo não os 4% sobre cada exemplar vendido como é comum nas editoras, mas cerca de 65%. E para aqueles que acharem que é demagogia do malvado, ele tem um discurso bem preparado:
- Não é uma questão de dinheiro, mas de respeito. É ser dono do seu próprio trabalho. Forma é pra tijolo, vocês não são tijolos, não devem ser todos iguais. Vocês tem o direito de tomar o caminho errado em nome de sua felicidade, não entrem na forma.


Referindo-se a um grande grupo editorial brasileiro, André explicou um tal de pacto camburiú, que segundo ele é um pilar desta empresa. Não vou reproduzir aqui, mas a gargalhada foi geral, o clima do debate estava realmente agradável quando neste momento, Lesmaluco, uma besta sonhadora que não se agüentava quieto, começou a bombardear Dahmer com uma série de perguntas estúpidas sobre como fazer um blog dar certo. Parece que surtiu efeito. André, fã assumido do nocarimbo, nos convidou para dividir a mesa da noite. Conversamos e nos xingamos como velhos amigos (o que infelizmente não somos), cheguei até a pedir um espacinho no mapa Dahmer, mas ele foi dando negativas até o momento em que os seguranças nos expulsaram do local.

Confesso que, fosse eu um rapaz menos macho, teria soltado uma ou duas lágrimas. Em homenagem ao meu ídolo escrevo estas linhas, afirmando que de minha parte, minha atividade profissional (mentir, matar, roubar etc.) é exercida com muito amor e dedicação, sem os quais, segundo o gênio Dahmer, nada vale a pena.







por PsicoPato

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