É tendência mundial. Ator que é ator volta e meia fica insatisfeito em decorar textos, compor personagens, ensaiar horas e repetir gravações. Ator que é ator quer virar diretor. Quer ficar atrás das câmeras, colocar o seu jeitinho, e proferir “cortas” e “gravando” sem cessar. E é claro que neste país continental não poderia ser diferente, a inclinação dos artistas se mantém. Foi assim nos áureos tempos de Hugo Carvana, é assim nos sombrios tempos de José Mojica, o Zé do Caixão, e analisando as novas empreitadas, certamente será nos prometidos tempos de Selton Mello. E outros mais.
O limite que separa as carreiras de ator e diretor é frágil. São freqüentes as aventuras e desventuras de intérpretes querendo alcançar o reconhecimento como chefes de filmagem. É assim no mundo. E com sucesso. O anti-herói mais famoso do velho oeste, Clint Eastwood, é um dos maiores cineastas dos tempos atuais. Um dos maiores sex symbols dos anos 70, Robert Redford, é também um aclamado diretor e criador do grande festival de filmes independentes, o “Sundance Film Festival”.
Por aqui, vem crescendo o número de atores a se arriscarem no comando da sétima arte. E agora foram três de uma só vez. O brasileiríssimo Festival do Rio de Cinema, que aconteceu há dois meses, marcou a grande estréia de uma trinca de famosos atores como diretores. Selton Mello brilhou com o seu “Feliz Natal”, Matheus Nachtergaele escandalizou com “A festa da menina morta” e Malu Mader emocionou com “Contratempo”. Em debates promovidos pelo Festival, os atores esclareceram ao Nocarimbo um pouco desta tendência em ascensão.
Os projetos dos longas dos três cineastas debutantes são antigos, ultrapassando todos o tempo de três anos de planejamento. Indagados sobre as facilidades que um ator de alcance nacional, e de passagem global, tem em captar recursos, os novos diretores afirmaram categoricamente que tiveram facilidades para agendar entrevistas, mas que não foi fácil convencer os patrocinadores. Selton já havia feitos alguns curtas. Matheus e Malu são totalmente estreantes.
A produção de Malu é um documentário e contou apenas com personagens reais. A diretora, seguindo a onda de filmes com tema social, acabou mostrando personalidade ao retratar várias histórias de vida que não dão certo, fugindo de qualquer espécie de romantismo. Os sonhos desfeitos têm espaço de destaque no documentário.
Já os filmes de Selton e Matheus são longas de ficção; e a escolha dos atores que participaram variou entre indicações, testes e convites a atores que eles já conheciam ou já haviam trabalhado. “A Festa de Menina Morta “, logamente aplaudido antes e depois da estréia, é estrelado pelo jovem Daniel de Oliveira, que vem mostrando a cada atuação uma maturidade cênica impressionante. Jackson Antunes complementa o dueto que tira o fôlego do público durante o filme todo. Para “Feliz Natal”, Selton Mello fez uma opção por um elenco mais tradicional, com nomes como Leonardo Medeiros e Darlene Glória, mas na direção foi completamente inovador. A grande virtude do filme é seu caráter introspectivo, com uma leveza ímpar quando se trata de dramas.
Todos os três já planejam novas produções. Em uma rápida entrevista com Selton Mello, o ator afirmou estar um pouco desmotivado com a carreira de interpretação e pretende se dedicar, por hora, à direção de Cinema. Será que teremos um ex-ator? Por certo ganharemos um grande diretor.
Ao longo da história do Cinema Nacional são muitos os casos de inversão desses papéis.



Não se pode esquecer de Zé do Caixão. José Mojica é essencialmente um ator-diretor que não permite a retirada do hífen para nenhum lado. É o nosso Woody Allen do Cinema trash, meio torto e muito sombrio. Entre os seus mais de trinta filmes está “A meia-noite levarei sua alma” de 1963.
Em um taco
Por Psicopato

Feliz Natal – Uma infelicidade profunda que me remete às minhas noites natalinas. Minha mãe.


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